O objetivo é ampliar a base de candidatos da agremiação pelo Brasil

Uma das grandes surpresas das eleições de 2018, o partido Novo planeja mudar algumas regras internas para tentar sair maior das eleições de 2022. Agora mais pragmática, a legenda quer permitir alianças com outras agremiações e acabar com uma taxa que, nas eleições passadas, foi cobrada para inscrição de candidaturas a cargos eletivos. O objetivo é ampliar a base de candidatos da agremiação pelo Brasil.

As mudanças, que tornam o Novo mais parecido com o modelo que antes criticava, foram uma demanda do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, eleito pelo partido em 2018 com o discurso da “nova política” e candidato à reeleição em 2022. As propostas discutidas internamente são questionadas pelo ex-presidenciável da legenda, João Amoêdo, mas têm o apoio do presidente da sigla, Eduardo Ribeiro, e do presidenciável do partido, o cientista político Felipe d’Avila.

“O Novo está refinando sua governança. Sou a favor da revisão dessa regra (das alianças). Esse veto fazia sentido no início, para manter a coesão do partido, mas não faz mais”, disse d’Ávila ao Estadão (mais informações nesta página).

Em 2018, em sua estreia nacional, o Novo, com a candidatura de Amoêdo, recebeu 2.679.744 votos (2,5%) na disputa presidencial. Elegeu oito deputados federais e um governador. Foi um desempenho surpreendente para uma legenda recém-criada, que nunca tinha disputado uma eleição.

Mas, em 2020, o partido teve um resultado pífio nas eleições municipais. Sem a possibilidade de coligações, com veto a candidaturas em cidades pequenas e um processo seletivo rigoroso e caro, o Novo concorreu em apenas 19 municípios. Elegeu um prefeito, um vice-prefeito e 28 vereadores.

Além de liberar as coligações com partidos da “velha política”, o Novo vai acabar com uma cobrança que, segundo Ribeiro, “espantava” muita gente. Trata-se da taxa de inscrição para o processo seletivo dos pré-candidatos, no valor de R$ 650. “Vamos retomar a expansão nos municípios, com regras e incentivos corretos”, declarou o presidente do partido ao Estadão.

ROTATIVIDADE

Outro gargalo que o partido tenta resolver é a alta rotatividade de dirigentes estaduais. Como o Novo não aceita receber dinheiro do Fundo Partidário, os braços regionais da agremiação são administrados por voluntários e contam com poucos recursos. Já o diretório nacional do partido tem uma estrutura profissionalizada, com 20 funcionários contratados.

Cada filiado tem de fazer uma contribuição de, no mínimo, R$ 30 por mês. Segundo o balanço patrimonial já disponível para os filiados, o Novo recebeu R$ 7,2 milhões em contribuições voluntárias de seus filiados e apoiadores no ano passado. O partido ainda tem um caixa de R$ 12,1 milhões. A prestação de contas do Novo do exercício do ano passado será entregue apenas em junho deste ano, por isso os valores ainda não estão disponíveis no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“As lideranças regionais não podem mudar tanto. A continuidade é importante. O diretório nacional tinha que rever essa estrutura. Vamos criar uma agência interna de comunicação para os Estados”, afirmou Ribeiro. Uma ideia que está em estudo, mas é vista como um “dilema” pelo presidente do partido, é remunerar dirigentes estaduais, mas sem utilizar verba pública.

CRÍTICO

Fundador do Novo e hoje afastado da direção partidária, Amoêdo criticou as mudanças em discussão. “Se o Novo fizer coligação com partidos que usam dinheiro público, então vai usar dinheiro público também”, afirmou o ex-presidenciável. “É óbvio que o partido quer crescer, mas é preciso crescer com qualidade. Sempre tivemos preocupação com a marca”, disse.

Ainda segundo Amoêdo, “o tiro pode sair pela culatra” com as novas regras. “Nascemos para inovar as práticas políticas. Se o Novo fizer as velhas práticas, corre o risco de virar mais uma legenda.”

4 PERGUNTAS PARA FELIPE D’AVILA

1. O Novo vai flexibilizar suas regras para sobreviver à cláusula de barreira?

O partido teve desavenças, brigas e rusgas relacionadas a disputas internas e à questão da flexibilização de regras. O trabalho foi para acalmar isso. O Novo aprendeu as lições e está pronto para as eleições de 2022. O partido está agora muito forte e com nominatas muito bem estabelecidas. Tenho certeza de que vamos ultrapassar a cláusula de barreira. Temos a meta de dobrar a bancada, de oito para 16 deputados.

2. Ser contra coligações é uma posição utópica?

Sou a favor da revisão da regra. Ela fazia sentido no início para manter a coesão no partido, mas o Novo teve sucesso com a eleição do governador (de Minas, Romeu) Zema. Em um país com partidos tão fragmentados não é possível reeleger um governador sem fazer aliança.

3. Já que o Novo não usa o fundo eleitoral, quem vai pagar a sua campanha?

Doações individuais.

4. Vai pagar os custos da campanha do seu bolso?

Sim, mas hoje pode muito pouco. Virou 10% da receita do ano anterior. Não dá mais para fazer uma campanha como a do Henrique Meirelles, que usou muito dinheiro próprio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.