A Universidade Nacional de Singapore (NUS) vem promovendo seminários on-line sobre longevidade e assisti a dois deles que compartilho com vocês neste domingo e na terça-feira. A coluna de hoje trata de um tema que costuma despertar polêmica: a bioestase, criogenia ou criopreservação. Não pretendo sequer abordar as questões bioéticas envolvidas, que deixo para os leitores: o que fazer ao “acordar” décadas depois, quando seus entes queridos já não estiverem aqui? Como se adaptar a um ambiente no qual não se tem raízes? Quem responde por danos no armazenamento dos indivíduos que esperam a “ressuscitação”?

Para o médico Emil Kendziorra, fundador e CEO da Tomorrow Biostasis, conservar um ser humano em temperaturas incrivelmente baixas para ser reanimado no futuro não deveria ser um tabu: “o que hoje em dia parece impossível, frequentemente pode se tornar viável amanhã. Foi o que aconteceu com os transplantes cardíacos”.

Resumidamente, o procedimento pode ser descrito como um processo capaz de “pausar” um organismo de forma a impedir que ele se deteriore. Por quanto tempo? Indefinidamente. “Se tudo já foi tentado, se não há tecnologia para a cura de determinada doença, esta seria a última alternativa: preservar o paciente até haver chance de curá-lo nos próximos anos, quando seria ressuscitado”, explica.

É bom deixar claro que não chegamos a este ponto: hoje em dia, é possível a criogenia de células, tecidos e alguns órgãos – como os embriões congelados que dão origem a bebês muito queridos – mas não de mamíferos ou seres humanos, porque a parte da “reanimação” ainda não funciona. Outro equívoco comum é acharmos que se trata de congelamento. “Na verdade, cristais de gelo destroem o tecido. A bioestase utiliza um processo chamado vitrificação para atingir um estado que se assemelha ao vidro, interrompendo a degradação do organismo, que assim pode ser mantido indefinidamente”, afirma Kendziorra.

Há muitos desafios a serem superados: entre eles, a toxicidade dos agentes crioprotetores; o risco de danos isquêmicos (com o comprometimento da irrigação sanguínea); e o estresse térmico depois do resfriamento – que pode destruir os vasos. Portanto, embora algumas centenas de pessoas já tenham se submetido à criogenia – e um outro grupo aguarde a morte para encarar a criopreservação – a reanimação desses indivíduos é uma aposta.

Uma equipe médica multidisciplinar realiza o procedimento, que inclui resfriamento, injeção de anticoagulantes, troca de fluidos do organismo e a administração de soluções crioprotetoras. No fim, o corpo será conservado num tanque de nitrogênio líquido cuja temperatura vai sendo reduzida gradativamente até 196 graus negativos. Entrei no site da Tomorrow, que só atende a clientes na Europa, e fiz uma simulação de quanto me custaria esse passaporte para a vida futura: 200 mil euros.

Fonte: Bem Estar