O rio Araras passa por cerca de 140 propriedades rurais, especialmente sítios e chácaras, da nascente ao ponto de captação da Companhia de Água e Esgoto de Rondônia (Caerd) em Cerejeiras. Essas pequenas propriedades são, na maioria, destinadas à pecuária de corte e de leite.
Como as áreas foram abertas no final da década de 1970 para o início da década seguinte, época em que quase não havia legislação ambiental e a consciência ecológica era quase inexistente, num tempo em que o desmatamento era tido como uma condição para ter a posse da terra, os proprietários desmataram as matas ciliares no leito do rio. Inclusive, a própria nascente do igarapé foi um bebedouro de gado por décadas.
E essa realidade que o projeto tenta mudar.
O projeto de revitalização do rio foi elaborado em 2021, época em que o governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (União Brasil), destinou uma verba para a iniciativa.
Antes disso, em 2020, a Promotoria de Justiça de Cerejeiras instaurou um inquérito para apurar a situação do rio. o promotor Victor Ramalho Monfredinho solicitou ao Núcleo de Análises Técnicas do próprio Ministério Público o estudo da nascente do Araras. Técnicos vieram ao município e fizeram um levantamento de todo o leito do rio e emitiu um parecer para embasar o inquérito.
Embora a ação não tenha desembocado em uma Ação Civil Pública ou em algo do gênero (pelo menos por enquanto), a iniciativa do promotor alertou autoridades públicas para a questão, no que resulta agora na elaboração deste importante projeto – que atualmente está sendo reelaborado.
O engenheiro florestal Vinicius de Almeida dos Anjos, que trabalha no escritório da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sedam) em Cerejeiras, explica a razão da necessidade de readequação do projeto de revitalização do rio Igarapé Branco. “Nas duas vezes que saiu a licitação, houve deserção, ou seja, nenhuma empresa se interessou. O motivo é que os preços estão defasados. Agora estamos readequando o projeto para fazer uma nova licitação”, explica o engenheiro.
A equipe da força tarefa é composta de geógrafos, geólogos e engenheiros florestais, do próprio município e também de Rolim de Moura e de Porto Velho.
A equipe multidisciplinar, composta de técnicos da Sedam, está reavaliando cada ponto do projeto de revitalização do rio Araras.
Na quarta-feira, 07, pela manhã, a prefeita de Cerejeiras, Lisete Marth (União Brasil), participou das discussões com integrantes da força tarefa. À tarde do mesmo dia, a prefeita acompanhou os membros da equipe ao imóvel do antigo CTG, que pertence ao município e onde será montado o viveiro para o projeto.
A obra de revitalização do rio Igarapé Branco tem apoio do governo estadual, que destinou R$ 2,4 milhões para a obra. O município deverá acrescentar uma contrapartida de 10% sobre esse valor.
O projeto inclui revitalizar o rio através do plantio de árvores em todo o leito do córrego, tanto na nascente quanto nas chamadas matas ciliares.
Ao todo, serão revitalizados mais de 14 quilômetros de extensão, desde a fonte do rio em Colorado do Oeste até o ponto de captação de água pela Caerd para consumo humano em Cerejeiras.
Como o Igarapé Branco nasce numa área arenosa, segundo explicam os técnicos da força tarefa, o assoreamento do curso d’água do rio é facilitado pela falta de vegetação, destruída pelo desmatamento em muitos pontos do leito do igarapé.
Para reflorestar a várzea do rio, a prefeitura construirá um viveiro que produzirá cem mil mudas de espécies nativas por ano.
O município planeja buscar parcerias com instituições de ensino, como a Universidade Federal de Rondônia (Unir) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro), para executar o projeto, já que terá várias etapas e será de longa duração.
Não há uma estimativa de quando o projeto começará a ser de fato implantado, uma vez que, segundo os técnicos, o processo de licitação pode levar um tempo que não é possível para ser previsto.
Esta iniciativa tem tudo para ser o maior projeto ambiental do Cone Sul e talvez até de Rondônia. Pelo menos no site do governo, a iniciativa em Cerejeiras é apontada como o maior investimento financeiro num projeto ambiental dos últimos quatro anos.
Quando for concluído, o rio terá um curso de floresta em todo o leito, produzindo mais água para o ser humano e gerando um ambiente propício para a volta da biodiversidade. Vale lembrar também que o rio em questão é um dos afluentes do majestoso Guaporé, o maior curso d’água do Cone Sul de Rondônia.
O rio Igarapé Branco é a fonte da água tratada distribuída pela Caerd para mais de 40% das residências da área urbana de Cerejeiras. Em 2020, houve uma crise hídrica sem precedentes por conta da longa estiagem, que esvaziou a vazante do rio, deixando milhares de pessoas sem água por semanas a fio.
Pela questão ambiental e para manter a água nas residências dos moradores cerejeirenses, este projeto se tornou, de fato, uma questão crucial – e merecem aplausos todos aqueles que contribuíram ou estão contribuindo para que essa iniciativa saia do papel.