A ministra do Planejamento fez inda um relato do período de campanha, em que decidiu apoiar Lula, “um democrata”, quando se formou uma ampla aliança pela democracia
Lisboa — A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que está preparada para enfrentar os ataques do “fogo amigo” do governo e assegurou que esse movimento em nada a intimida, mesmo estando convivendo com colegas que têm ambições políticas em 2026. Em conferência no Lide Brazil Conference, ela foi direta: “Sou cumpridora de missão. As vezes que mais ganhei na vida foi quando perdi. Não haverá 2026 se não fizemos o dever de casa em 2023”.
Tebet foi enfática ao dizer que não lhe falta coragem para o debate interno dentro do governo. “Meu Ministério não é fácil. É o ministério que diz não”, afirmou, referindo-se os cortes no Orçamento que virão pela frente. “O presidente Lula diz que o foco de todos nós, independentemente de esquerda ou de direita, é o crescimento econômico. Isso passa pela rigidez fiscal. Serei austera em relação a isso. Vou receber alguns cartões amarelos, se perceber que vou receber vermelho, vou chegar com jeitinho para o presidente e esclarecer a questão”, ressaltou. Ela acrescentou que, “para grande surpresa”, tem no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um “grande parceiro”.
A analogia dos cartões do futebol saiu na sequência de uma pergunta do chairman do Lice, Luiz Fenando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento no primeiro governo de Lula. Ele contou que, à sua época, ouviu do presidente da República que haveria cartões amarelos em caso de “caneladas” na equipe, mas que não se preocupasse com cartão vermelho. Simone Tebet disse que também não tem essa preocupação e que a equipe econômica — ela, Haddad, Geraldo Alckmin e Esther Dweck — está unida.
A ministra foi enfática ao dizer que o país só voltará a crescer quando fizer do “dever de casa”. E são três os desafios: reforma tributária, arcabouço fiscal, tarefa do ministro Haddad, e um ambiente seguro para o investidor, dentro do PPI. “O governo federal tem o recurso limitado, não vamos crescer sem parceria com a iniciativa privada. Vamos garantir um ambiente seguro de negócios. Que vai investir, ter retorno e gerir, sem sobressaltos”, afirmou.
Tebet anunciou que apresentará ainda este ano um Plano Plurianual de investimentos, o PPA, que, nos últimos anos, foi praticamente deixando de lado. “O Brasil precisa voltar a crescer e ser competitivo. E não faremos isso sozinhos”, disse a ministra, referindo-se à necessidade de reativar o Mercosul e o acordo com a Comunidade Europeia.
A ministra fez ainda uma retrospectiva do governo Bolsonaro, “um timoneiro sem carta náutica”. Falou ainda das “fake news, discursos de ódio, negacionismo de todas as espécies, negando inclusive vacinas”. Em contraponto, ela aproveitou a citação das vacinas para agradecer e homenagear o fundador do Lide, o ex-governador de São Paulo João Doria, o primeiro gestor brasileiro a encomendar e comprar vacinas, durante o período mais agudo da pandemia de Covid19. “Os seus discursos vespertinos diários instigando a produção de vacinas moveram o governo federal e salvaram milhares de vidas no Brasil. Foi o que levou o governo federal, com atraso de três meses, a comprar vacinas”, disse, arrancando aplausos da plateia.