Reaprender para alcançarmos a paz

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Nesta iluminada semana, busquei mais luz no fim do túnel, ao presidir na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal formas para mitigar os elevados índices de violência no ambiente escolar nas instituições de ensino público.

Com a mesma disposição do período em que governei o Estado de Rondônia, contei agora com a adesão de meus pares para debater o tema em suas raízes e entranhas.

Sublime é a missão de quem educa, enérgica e eficaz deve ser a missão de quem enxerga no professor e no aluno seres dignos de toda atenção emocional e da solidariedade do Estado que a eles confia o futuro da Nação.

Nossas secretarias de educação deixam o manual e ingressam no digital. Antenas de celulares e do ensino a distância chegam aos confins amazônicos. A programação da aula encanta seus atores nos estúdios e alcança toda ressonância no mediador, lá na ponta.

Pergunto-me: por que a violência escolar deixar de ocorrer na floresta, mas faz vítimas nas cidades, vergando-se às intempéries turbulentas em zona urbana?

Já podemos contar na Comissão de Educação com a proposta de ampliação de um plano de ação concreta: mapear escolas em situação crítica e atuar imediatamente ao lado delas. De 700 unidades escolares do Distrito Federal, 126 apresentaram níveis de violência preocupantes.

Foi criado o Caderno de Convivência, com orientações gerais sobre como lidar com situações de fragilidades emocionais. Há mais de 40 anos, o saudoso professor de educação física em Ceilândia, Cláudio Herrera Passos, dialogava com um aluno armado de faca, colocando-o na turma de basquetebol noturno. Tornando-se amigo dele, resgatou-o da prática do mal, reconhecendo-lhe o ser humano oculto atrás do rosto sisudo. Seria um aluno a menos nos índices negativos da evasão escolar, um jovem a menos no crime.

Em Porto Velho, na patrulha escolar da PM, a cabo Jocely contou em 2015 que falava energicamente com alunos, mas com respeito. O cenário mostrou uma polícia comunitária a caminho da evolução.

Foi assim que um dia constatou a presença de três jovens armados rondando a Escola Capitão Cláudio Manoel Costa (bairro Conceição, zona Sul). “Nós os desarmamos e eles se surpreenderam com a patrulha, que não precisou impor nenhum constrangimento; um deles, com passagem por delegacia, agradeceu, dizendo que anteriormente nunca havia sido tratado assim”, ela contou a jornalistas.

A Escola Jesus Hosanah, no bairro Areal da Floresta, em Porto Velho, utilizou recursos da Associação de Pais e Alunos para iluminar todo o pátio, melhorar o muro e afastar traficantes de drogas. Fizeram um “milagre”, sete anos atrás.

Tão logo a audiência pública desta semana se desenvolveu, lembrei-me da minha movimentação anterior em prol da paz escolar. Autorizei em 2018 a formação de multiplicadores para lançar um programa de convivência pacífica nas escolas da rede estadual, com base nas experiências de sucesso da União Europeia.

Investimos em oito profissionais servidores de carreira do estado, no curso de Mediação Escolar na cidade do Porto, em Portugal, fruto de convênio com o Instituto Brasileiro de Mediação Gestão de Conflitos e Cultura de Paz da Universidade Lusófona do Porto com o Fórum Internacional de Mediadores Profissionais.

Para lá rumaram dois psicólogos, dois assistentes sociais e quatro professores do quadro da Seduc, juntando-se a outros profissionais educadores de Brasília, São Paulo e Rio Grande do Norte.

São quatro décadas de conhecimento da triste realidade de escolas maculadas por brigas e até agressões entre professores, diretores e alunos em Porto Velho e no Interior. Nisso, vislumbramos conter a má-fama daquelas escolas em cujos muros ou portões acontecia o desenfreado tráfico de drogas.

Isso se deu na fase de instalação das primeiras escolas com regime militar ou de direção mista, e o saldo pedagógico é atualmente promissor.

Em 2016, percebi que educadores e pais se sentiam confusos com problemas sociais que adentram as escolas. O então gerente de formação e capacitação técnica e pedagógica da diretoria geral da Seduc, Marcos Antônio Shreder da Silva, nos informava que os problemas das escolas “eram “epidêmicos” e o doutorado em psicologia poderia amenizá-los.

Animava-me no Governo de incentivar os futuros mediadores de conflitos, contemplados com bolsas de estudos na Faculdade Católica de Porto Velho.

Notei a realidade das dificuldades dos alunos, os índices de reprovação e a triste evasão ocorridas em índices elevados especialmente no Ensino Fundamental por causa das dificuldades de aprendizagem e do comportamento violento no âmbito escolar.

Espero que a Comissão de Educação siga seu caminho, superando desafios, indo além de nossas possibilidades. Precisamos e esperamos que seja assim, pois o governo receberia, até para testá-las, alternativas capazes de evitar o caos.

A sociedade brasileira está em rápida transformação e muitas situações nos obrigam a trabalhar melhor o tema. Reaprender para chegarmos à paz faz sentido. Certamente lutaremos pelo pleno entendimento em questões humanas, epistemológicas, psicológicas, cognitivas, éticas e sociais.

Ontem, vislumbramos conter a onda com a efetivação do trabalho de bons gerentes, doutores em psicologia, todos capacitados a desenvolver trabalhos de orientação profissional e vocacional, promovendo ações a respeito de sexualidade, ética, desenvolvimento humano, prevenção ao uso de drogas e agressividade.

E hoje, o que é possível fazer? Distrito Federal e estados estariam realmente utilizando o potencial desses profissionais, dando-lhes a liberdade para trabalhar o bem?

Tenho fé e não perco a esperança de que, acompanhados pelo corpo docente e pelos pais, eles possam brevemente solucionar o que é preciso. Em meu mandato ainda espero alegrar meu coração e sorrir com essa vitória.