Apesar da aprovação recente no Congresso dos projetos de lei que versam sobre o assunto, as medidas a longo prazo para solucionar a questão deverão fazer parte da pauta das eleições
Qualquer que seja o resultado nas urnas em 2022, o próximo presidente da República subirá a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2023 com significativo desafio na economia: a alta do preço dos combustíveis. Apesar da aprovação recente no Congresso dos projetos de lei que versam sobre o assunto, as medidas a longo prazo para solucionar a questão deverão fazer parte da pauta das eleições.
A deputada federal Sâmia Bonfim (PSol-SP) define como “uma bomba em ano eleitoral” ter de lidar com um aumento explosivo no preço dos combustíveis. “[Os projetos] são paliativos diante do alto valor que se expressou. Bolsonaro joga para o próprio PT e para o STF. Com o projeto aprovado na Câmara, joga inclusive para os estados e municípios. Isso vai ter um impacto para prefeitos e governadores, que na prática vão ter menos arrecadação para investir em saúde, educação. E não vai resolver o problema da alta dos combustíveis”, pontuou a deputada.
O chefe do Executivo não esconde a possibilidade de demitir o presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna. No mês que vem, o presidente da Petrobras completará um ano no comando da empresa e vai receber um bônus de R$ 1,4 milhão. Ele já avisou que não pretende pedir demissão.
“Roubalheira” do PT
Bolsonaro chegou a mencionar, em live, que uma das causas para o aumento dos preços se deve à corrupção nos governos petistas. “As duas refinarias que o PT ia fazer no Nordeste, mais uma aqui no Sudeste, não fez. Uma roubalheira terrível. Mais de R$ 100 bilhões jogados fora. Então, nós dependemos da importação de diesel, de gasolina, dentre outras coisas. Se lá atrás o PT tivesse feito o seu trabalho, não tivesse endividado a Petrobras em mais de 900 milhões, não estaríamos em uma situação tão complicada”, argumentou o chefe do Executivo.
Este é o ponto defendido pelo líder do PL na Câmara, o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ): “A Petrobras vem praticando essa paridade com o mercado internacional. Deve-se muito isso ao maior escândalo de corrupção da história do Brasil”, diz o parlamentar, referindo-se ao petrolão.
Côrtes pontua que, caso as refinarias estivessem prontas, estariam produzindo derivados de petróleo mais baratos para a população brasileira. “Nós deixaríamos de importar. Sem falar na grande quantidade de empregos que estaríamos gerando aqui no país. Esse é o problema que vem lá de trás”, disse.
Na avaliação do cientista político da FGV Eduardo Grin, mais um aumento no preço dos combustíveis gera “um problema seríssimo” para uma das importantes bases de apoio de Bolsonaro — os caminhoneiros. “Bolsonaro vai achar um jeito de privilegiar por algum critério de subsídio, redução do preço, congelamento de preço, no sentido de evitar a greve, porque se essa greve ocorrer ela vai ser, não só prejudicial eleitoralmente para o presidente, pela perda de apoio dos caminhoneiros, como para toda a população”, destacou o professor.
“Isso significa a possibilidade da inflação no Brasil assumir uma taxa elevadíssima no ano de 2022, e não há precedente de presidentes no Brasil que tenham conseguido se eleger em meio à crise econômica, com inflação alta e desemprego”, explanou o professor.
A situação evidencia, ainda, uma nebulosidade no papel que a Petrobras exerce nos governos. Para o economista e analista político Masimo Della Justina, demitir ou não o general Silva e Luna não fará diferença nesta altura do jogo político. “Falta um projeto de longo prazo, de gestão e do papel econômico e social para a Petrobras”, observou.
Fonte: CorreioBraziliense