A história da PF sempre foi marcada por delimitação de espaço de correntes internas, mas a disputa era velada

O segundo lugar do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas eleitorais deflagrou uma disputa interna na Polícia Federal por expectativa de poder. Sem um comando que tenha o controle de fato de delegados que atuam com autonomia nas investigações, a instituição virou um explícito cabo de guerra entre o grupo que apoia Bolsonaro e outro que sinaliza para uma abertura de canais com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas intenções de voto.

Desde que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro já trocou o diretor-geral da PF quatro vezes. Algo incomum na corporação. Num passado bem recente, o delegado Leandro Daiello ficou seis anos à frente da instituição, nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) – o mais longevo no período democrático.

O troca-troca constante no atual governo fragilizou a figura do chefe da PF, já que pelo padrão ele pode ser trocado a qualquer momento caso alguma investigação desagrade ao Palácio do Planalto.

Disputa velada

A história da PF sempre foi marcada por delimitação de espaço de correntes internas, mas a disputa era velada. Sem pulso, o diretor-geral da corporação, Márcio Nunes de Oliveira, há apenas seis meses no cargo, assiste de camarote à deflagração dessa guerra sem condições para conseguir contê-la.

Entre delegados, a promessa é de que setembro vai ferver e operações como a de anteontem, em que oito empresários apoiadores de Bolsonaro foram alvo de busca e apreensão, serão constantes no mês que antecede as eleições.

Foi a pedido da PF que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a operação de busca e apreensão contra os empresários que defenderam, em um grupo do WhatsApp, um golpe para impedir a volta de Lula ao poder.

Segundo a coluna de Vera Rosa, no Estadão, há suspeitas também de que eles estariam financiando atos de apoio ao presidente para o 7 de Setembro. Há temor de que a manifestação saia do controle e se transforme num ato em defesa do fechamento do Supremo e do Congresso, prática absolutamente inconstitucional.

Reação

O comando da PF abraçou a agenda antiurna do presidente e colocou a instituição para reforçar o discurso de que o voto eletrônico não é seguro. A esse movimento da cúpula houve reação interna e uma das respostas foi a deflagração da operação contra os empresários.

Um policial resumiu o clima na corporação hoje. Ele citou um vídeo que viralizou nas redes sociais, o do menino João. O pai pergunta ao garoto: “Eles são maus. E a gente?” João responde: “A gente é mau também!”

É uma situação nada boa para uma instituição que, há alguns anos, atribuía a si própria a imagem de uma polícia do Estado. Nessa narrativa distante, interesses partidários eram encobertos e as divergências pareciam ser apenas visões diferentes de uma investigação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.