Thelma Krug perde disputa pela presidência do IPCC e resultado joga ducha fria na busca de protagonismo do país nos debates ambientais. Cientista escocês foi o vencedor da eleição, que teve ainda uma sul-africana e um belga
Com o resultado de ontem, a Europa e os países desenvolvidos mantêm o controle do principal órgão climático do mundo e da agenda de debates, apesar do crescente protagonismo do Brasil, que detém os maiores recursos naturais do planeta e reassume, depois de quatro anos de ausência, papel de protagonismo nas discussões internacionais sobre o meio ambiente. Thelma seria a primeira latino-americana e a primeira mulher à frente do Painel.
A brasileira chegou à rodada final da votação, mas perdeu para Skea por 69 votos a 90. O próximo mandato terá duração de cinco a sete anos, período considerado crucial para as discussões multilaterais sobre o clima.
Depois de ser escolhido para comandar o IPCC, Skea anunciou que a prioridade da gestão que assume será proteger a integridade científica e a relevância política dos relatórios do Painel, que costumam ser divulgados a cada cinco anos e servem para embasar as políticas preservacionistas de vários países.
“A mudança climática é uma ameaça ao nosso planeta. Minha ambição é liderar um IPCC que seja verdadeiramente representativo e inclusivo, que olhe para o futuro enquanto aproveita as oportunidades que temos no presente, e no qual todos se sintam validados e ouvidos”, afirmou o cientista escocês.
Presença feminina
Thelma e a sul-africana Debra Roberts foram as primeiras mulheres na história do Painel a se candidatarem à presidência. A cientista brasileira foi apoiada por uma forte campanha do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No fim de semana, a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, e a secretária-geral do Itamaraty, a embaixadora Maria Laura da Rocha, estiveram em Nairóbi, no Quênia — local da eleição —, para tentar cabalar votos para Thelma.
O governo britânico, porém, também fez forte campanha e reuniu maior apoio. Em nota, a Embaixada do Reino Unido no Brasil comemorou a eleição de Skea, mas elogiou a atuação da cientista. “Parabenizamos a excelente campanha da dra. Thelma Krug, uma justa representação da qualidade da ciência climática brasileira”, reconheceu.
Além do presidente, foram eleitos os 34 membros da diretoria do Painel. Também concorria à presidência, além de Skea, Thelma e Debra, o acadêmico e climatologista belga Jean-Pascal van Ypersele. A brasileira ocupava a vice-presidência do órgão e tem mais de 21 anos de experiência no Painel.
O IPCC foi criado em 1988 e dele fazem parte 195 países-membros. O Painel vem alertando para a rapidez das mudanças climáticas e avalia que o mundo atingirá a marca crítica de 1,5°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais na próxima década.
Fonte: CorreioBraziliense