Não são poucas as surpresas que o futebol saudita tem proporcionado ao mundo. A vitória da seleção sobre a Argentina na Copa do Mundoa contratação de Cristiano Ronaldo pelo Al Nassr e a vitória do Al Hilal sobre o Flamengo, no Mundial de Clubes, são exemplos recentes.

Qual é o tamanho do negócio do futebol na Arábia Saudita? Além da vaga noção de que príncipes e empresários financiam os clubes, de onde vem o dinheiro? Há motivos para crer que o país siga surpreendendo? Perguntas que, pela primeira vez, podem ser respondidas com números.

Graças a uma ordem recente do governo saudita, clubes de futebol do país apresentaram suas demonstrações financeiras. Elas não são tão detalhadas quanto os balanços publicados por brasileiros e europeus, mas mostram o mínimo necessário: receitas, custos e dívidas.

O jornalista especializado em negócios do esporte Abdulrahman Elshoikh, da Bloomberg Asharq, compilou os dados em um relatório. Em contato com o ge, o árabe facilitou o entendimento do idioma e dos números.

No total, a primeira divisão saudita teve R$ 3,9 bilhões em faturamento no ano fiscal encerrado em 30 de junho de 2022. O Al Ahli foi o único dos 16 integrantes da elite a não publicar seus números. Com este clube, a somatória seria maior e passaria facilmente dos R$ 4 bilhões.

A liga é marcada por profunda desigualdade financeira entre os clubes. Enquanto o Al Hilal se aproxima de R$ 1 bilhão em faturamento, a maioria opera com arrecadações inferiores a R$ 170 milhões por ano.

Comparações com o mercado brasileiro ajudam a dimensionar o negócio. Em termos gerais, a primeira divisão do Brasil tem arrecadação próxima a R$ 7 bilhões, se disputada pelos clubes de maior torcida.

Individualmente, o Al Hilal está no mesmo patamar financeiro de Flamengo e Palmeiras – próximo de R$ 1 bilhão por temporada em faturamento. Os sauditas superam em algumas centenas de milhões de reais CorinthiansSão Paulo e outros clubes de torcidas numerosas.

A origem do dinheiro também é diferente. No Brasil, as maiores receitas são direitos de transmissão, transferências de jogadores e patrocínios, além de bilheterias e mensalidades de sócios-torcedores.

Na Arábia Saudita, o governo distribui dinheiro aos clubes por meio do Ministério do Esporte. Esta é a maior fonte de financiamento do futebol nacional e, na maior parte das entidades, é praticamente a única.

Clube Diversas Patrocínios Atletas Doações Governo TOTAL
Al Hilal 126 291 0 367 203 987
Al Nassr 136 137 12 223 159 667
Al Ittihad 99 121 16 11 227 473
Al Shabab 43 34 50 0 142 269
Al Fateh 14 6 3 10 137 170
Al Taawon 51 5 6 5 102 169
Al Feiha 23 2 1 15 116 157
At Ettifaq 17 6 10 11 111 155
Al Faisaly 13 9 0 2 126 150
Al Baten 9 2 1 2 113 126
Al Taee 15 6 0 3 100 125
Al Raed 14 5 1 0 102 122
Al Hazem 9 4 1 1 107 122
Dhamk 14 4 1 2 98 120
Abha 5 2 0 0 107 114
Al Ahli Não publicou Não publicou Não publicou Não publicou Não publicou Não publicou
TOTAL 587 635 102 652 1950 3926

No quadro acima, as receitas descritas como “diversas” são as oriundas dos direitos de transmissão e das bilheterias. Mesmo entre os clubes de maior torcida – Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Shabab, além do Al Ahli, que não publicou –, valores são pouco representativos.

Patrocínios são surpreendentemente altos e indicam a participação dos donos, que incluem os clubes em seus conglomerados e conseguem contratos vantajosos com as próprias empresas.

O dinheiro dos proprietários também aparece entre as doações, desta vez de maneira direta. Príncipes e empresários aportam dinheiro e facilitam tanto investimentos, na compra de jogadores e na construção de infraestrutura, quanto no custeio da atividade no cotidiano.

Um sinal de como o negócio cresceu, mas ainda não é sustentável, está no fato de que só dois clubes terminaram o ano fiscal de 2022 com lucro.

Prejuízos ocorrem quando o faturamento é menor do que salários de atletas, comissão técnica e funcionários, além dos custos administrativos.

É assim que se formam as dívidas – que, no caso da Arábia Saudita, também existem, porém em quantidade inferior à encontrada no Brasil. No total, os clubes da primeira divisão devem R$ 2 bilhões.

Tratando-se de mercado que contrata muitos jogadores de salários altos, mas não tem o hábito de vendê-los por valores relevantes, e ainda com a dependência dos aportes feitos pelas pessoas envolvidas em sua administração, percebe-se que o futebol saudita cresce artificialmente.

Independentemente dos meios adotados para promover o crescimento, o futebol saudita tem se estruturado e concorre em campo, nas competições internacionais, e no mercado de transferências, ao atrair jogadores que interessariam aos brasileiros em outras circunstâncias.

Quem joga na Arábia Saudita

 

Cristiano Ronaldo é inegavelmente o jogador mais famoso a disputar a liga saudita. Contratado pelo Al Nassr em janeiro deste ano, ele havia sido procurado antes pelo Al Hilal, mas a negociação não avançou.

Há rostos familiares ao torcedor brasileiro. Jogam no Al Hilal o volante Cuéllar, que defendeu o Flamengo até 2019, e o atacante Michael, vendido também pelo Flamengo em 2022. Eles não são os únicos.

  • Bruno Henrique (Al Ittihad)
  • Marcelo Grohe (Al Ittihad)
  • Luiz Gustavo (Al Nassr)
  • Flávio (Al Taawon)
  • Vitinho (Al Etiffaq)
  • Romarinho (Al Ittihad)
  • Michael (Al Hilal)
  • Anderson Talisca (Al Nassr)
  • Mailson (Al Taawon)

 

Anderson Talisca comemora gol ao lado de Cristiano Ronaldo — Foto: REUTERS/Ahmed Yosri

Anderson Talisca comemora gol ao lado de Cristiano Ronaldo — Foto: REUTERS/Ahmed Yosri

Fonte: ge