A chuva de memes que tomou conta das redes sociais na última semana, quando veio à tona que Casemiro estava a caminho do Manchester United, tratou a escolha do brasileiro como motivo de piada, algo quase inacreditável, inconcebível, e logo às vésperas da Copa do Mundo. Mas a opção de futuro do volante brasileiro é admirável por diversos pontos de vista. Casemiro esbanja, na gestão de carreira, a coragem que sempre exibiu nos gramados.
Trocar aquele que é considerado por muitos o maior clube do mundo, no momento em que é campeão europeu e espanhol, seria, por si só, uma escolha polêmica. E parece um negócio ainda pior quando o destino é uma equipe que está fora da maior competição do continente e não parece pronta para lutar pelos títulos nacionais tão cedo. Mas o que o senso comum parece ter omitido nesta equação é o fator de grandeza do Manchester United – que não fica muito para trás na comparação com o Real Madrid.

Tudo bem, a última década dos Red Devils faz parecer que há um abismo entre o clube inglês e o Real. Mas como não levar em conta a história vitoriosa do United, que o transformou em um dos clubes mais populares do mundo, com penetração impressionante em mercados como a Ásia, as Américas e outros cantos do mundo? Casemiro não esqueceu disso – e fez questão de deixar claro antes mesmo de vestir a camisa:

Que as pessoas não se esqueçam do clube para onde vou, um dos maiores times do mundo e que pode competir com a grandeza do Real Madrid, mesmo que agora não o faça.”
— Casemiro, volante do Manchester United
E há outras razões para a mudança. Jogar a Premier League, hoje, é o maior desafio que um atleta de futebol profissional pode ter em seu dia a dia de trabalho. São 38 rodadas de jogos duros, em um campeonato em que investimento e grandeza não garantem nem mesmo uma vaga na Champions, muito menos os títulos. Cá entre nós, um funil bem mais estreito que o Espanhol, onde nem a pior das crises tira os gigantes Real e Barça do trilho europeu. É admirável um jogador consagrado, aos 30 anos, querer elevar um sarrafo que já é alto.

E, no fim das contas, Casemiro não tem nada a perder. Seu posto como ídolo do Real está mais que assegurado. Pense em um troféu que o brasileiro poderia ter ganho com a camisa merengue: ele tem pelo menos um de cada. Foram cinco da Liga dos Campeões, três do Mundial de Clubes, três do Campeonato Espanhol, um da Copa do Rei, três da Supercopa da Espanha, três da Supercopa Europeia. Tudo isso em “apenas” oito temporadas. Falando claramente: Casemiro zerou o jogo no Real Madrid.

No United, por mais que a crise pareça profunda, o horizonte é vasto. Casemiro foi contratado para ser, talvez, o pilar principal da reconstrução de um dos gigantes da Europa. Se o projeto liderado por Erik Ten Hag for bem sucedido, muito provavelmente Casemiro terá enorme parcela. Dá para dizer que o sucesso do Manchester United nos próximos anos passa pelo sucesso do brasileiro. Vai dizer que não é tentador ter a chance de fazer história desse jeito?

Depois de marcar seu nome para sempre no Real Madrid – seja como membro de um dos maiores trios de meio de campo da história ou como um dos líderes da equipe que conquistou cinco Champions em oito anos -, Casemiro pode ser ícone de uma geração que pretende mudar os rumos do Manchester United. Resumindo em uma frase: Casemiro pode ser ídolo dos dois maiores clubes do mundo.

A fala de Casemiro sobre sua própria escolha deixa claro: ele sabe o que está fazendo. Não se trata daquela brincadeira de programas de auditório onde se coloca um fone de ouvido e corre o risco de trocar um carro por um patinete. O brasileiro abre mão de um gigantesco clube onde é ídolo, mas escolhe outro tão grande quanto. Hoje, parece uma escolha ruim, mas o volante deixa claro ter os olhos no futuro ao fazer sua opção. O que já foi piada pode se transformar em admiração. A conferir.