Com Bruno Henrique, Arrascaesta, Gabigol e Everton Ribeiro menos espaçados, time de Paulo Sousa volta a fazer combinações e bate argentinos no Maracanã; Santos traz segurança na saída de bola

Antes, durante e depois da vitória por 3 a 1 do Flamengo sobre o Talleres, no Maracanã, muitos torcedores e analistas bateram o pé e afirmaram: “a volta do 4-4-2 foi decisiva para o resultado”. O autor do texto inclusive foi um destes palpiteiros que levantou essa tese. No decorrer do jogo, porém, a variação do sistema e a troca de posições deixaram claro que o mais importante da noite foi o constante diálogo entre Bruno Henrique, Arrascaeta, Gabigol e Everton Ribeiro.

Flamengo deu impressão de que variou menos o posicionamento de sua primeira linha, que, com três zagueiros ou não, sempre defendeu-se com quatro desde a chegada do português. A disposição ofensiva também pode ser definida com variados números, como 3-2-4-1 ou 3-5-2, algo que já se via desde o início do trabalho do português, porém a grande notícia – é preciso repetir – foi a aproximação do quarteto.

Em coletiva recente, Paulo Sousa afirmou que precisava primeiramente consolidar um sistema para poder lançar mão de outros no decorrer das partidas. Contra Talleres, conseguiu se aproximar disso. É verdade que o Flamengo cometeu erros, sobretudo individuais, mas enfim voltou a evoluir.

Primeiro gol escancara aproximação

 

Flamengo abriu cedo o placar em um gol de pênalti. Mais importante do que a ótima cobrança de Gabigol foi a jogada que terminou em falta de Benavídez em Arrascaeta. Os quatro participaram. Perto do círculo central, Everton Ribeiro entregou a Bruno Henrique, que esticou em Arrasca. O uruguaio tocou para Gabigol e recebeu de volta do camisa 9 antes de ser derrubado.

Detalhe a ser ressaltado é que no momento do encontrão de Benavídez em Arrascaeta, Gabigol passava pela esquerda, Ribeiro dava opção perto da marca do pênalti, e BH estava entrando na área.

Mais juntos no segundo gol

 

Se no primeiro gol Everton Ribeiro e Bruno Henrique foram os responsáveis por fazer a bola chegar ao ataque, no segundo Arrascaeta quem tratou de quebrar a marcação adversária com sua genialidade. David Luiz lançou, o uruguaio recuou e tocou de calcanhar para BH, que avançou e tentou a devolução. A bola sobrou limpa para Everton Ribeiro bater de primeira e ampliar.

Sentiu falta de Gabigol? Pois ele estava bem colocado o tempo inteiro, em posição legal entre Catalán e Pérez. Sua movimentação combinada à de Arrascaeta puxou a marcação de três argentinos para a ponta e abriu espaço no meio para Ribeiro finalizar.

“Estranho no Ninho”, Gomes auxilia trio no terceiro gol

 

Depois de sofrer um gol inesperado perto dos acréscimos do primeiro tempo – isso é papo para o fim da análise –, o Flamengo tentava se reencontrar e ainda pecava bastante tecnicamente. O lance do terceiro gol mostra isso. Thiago Maia comete erro primário de passe, mas João Gomes limpa sua barra com um desarme e a construção que desmontou a barreira defensiva adversária.

Gomes avançou, trombou no marcador e pisou com o calcanhar deixando para Everton Ribeiro tabelar com Bruno Henrique e tomar a decisão mais correta possível ao finalizar com força no canto do goleiro. Um jogador sem confiança poderia optar pelo cruzamento para o próprio Gomes ou para Arrascaeta, que davam opção. Ribeiro preferiu assumir o protagonismo e decidir a parada.

Grande participação de João Gomes, que fez o papel de João Gomes ao desarmar e trombar. De Arrascaeta ao clarear a jogada com o improviso de um toque de calcanhar. E de Gabigol ao surgir na área como opção. Sorte dele que não precisou ser testado como 9.

Erro coletivo no gol argentino

 

Apesar do elogio a Gomes, que mais uma vez apresentou-se muito bem, ele e Thiago Maia – este muito mal em campo – abriram buraco no meio determinante para o gol. Ao não fecharem os espaços que lhes cabiam, deixaram Ignacio Méndez livre. Isso fez David Luiz deixar sua posição para, sem sucesso, tentar o bote no 8 do Talleres. A bola chegou para Girotti, acompanhado por Arão, tocar de calcanhar para Fértoli fuzilar diante de um Rodinei que marcou a bola.

Pode-se questionar se Arão poderia ter chegado mais próximo ou com maior firmeza em Girotti, mas os erros em efeito dominó ocasionaram um gol que jogou aquele balde de água fria minutos antes do intervalo. O volante, aliás, voltou a ser zagueiro como nos tempos de Rogério Ceni e saiu-se bem na marcação e na saída de bola durante o restante do jogo. Isso rendeu a ele citação especial de Paulo Sousa, que tratou sua interpretação de jogo como “extraordinária” (clique aqui e leia em outros tópicos).

Erros individuais, aliás, apareceram aos montes com Matheuzinho, Rodinei e Thiago Maia. João Gomes também não foi um primor nos passes, mas compensou com combatividade e participação efetiva na construção. Maia, porém, mostrou humildade ao responder um seguidor via Twitter admitindo que está em momento ruim.

Santos tira a tensão da saída de bola do Flamengo

 

Se o Flamengo sabe que tem uma joia nas mãos para lapidar quando o assunto é goleiro, mas o clube também está ciente de que é necessário fazer Hugo Souza evoluir no jogo com os pés para tornar-se mais autoconfiante e convencer de vez a torcida.

Estreante da noite, Santos deu impressão de que não preocupará no quesito. Fez jus à boa saída de bola que aprendeu a realizar no Athletico-PR e esteve seguro quase o tempo inteiro. Poderia ter tomado um frango em cabeçada na reta final do jogo? Sim, porém teve ao seu lado a sorte que acompanha os bons goleiros.

Santos teve atuação segura em sua estreia pelo Flamengo — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Santos teve atuação segura em sua estreia pelo Flamengo — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Conexão entre campo e arquibancada

 

Com a atual situação do Talleres no Campeonato Argentino – é penúltimo em sua chave com 15 clubes -, seria difícil afirmar que o Flamengo venceu um grande adversário. Porém é extremamente aceitável destacar que o time, sobretudo seu quarteto mais criativo, voltou a funcionar e a falar a mesma língua.

E o funcionamento de Bruno Henrique, Arrascaeta, Gabigol e Everton Ribeiro juntos, com tabelas, passes de efeitos, gol e aproximação ajudaram a ser feita uma outra reaproximação. A entre campo e arquibancada. A sinergia entre time e torcida tão desejada por Paulo Sousa pode ter começado a andar.

Arrascaeta e Ribeiro foram os melhores do Flamengo e falaram a mesma língua em campo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Arrascaeta e Ribeiro foram os melhores do Flamengo e falaram a mesma língua em campo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Fonte: ge