Para o mercado financeiro, a principal âncora da economia, a política de juros, virou uma biruta de aeroporto na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), que aumentou a taxa básica de juros de 10,75% ao ano para 11,75% ao ano, mas sinalizou que a Selic vai a 12,75% em maio. A expectativa gerada é de que o arrocho monetário não vai parar por aí e a economia pode mergulhar numa nova “grande depressão”.

Essas preocupações decorrem do papel cada vez mais subalterno do ministro da Economia, Paulo Guedes, nas decisões econômicas do governo, o que se reflete, inclusive, na demora para aprovação de dois diretores do Banco Central (BC) pelo Senado. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa, senador Otto Alencar (PSD-BA), engavetou as duas indicações para os cargos de diretor de política econômica e diretor do sistema financeiro, com o argumento de que o governo está sem líder no Senado, desde a saída do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) do cargo.

Diogo Abry Guillen, indicado para a diretoria de política econômica, de 39 anos, é formado em economia pela PUC-RJ, onde concluiu mestrado. Tem doutorado pela Universidade de Princeton e atualmente é economista-chefe da Itaú Asset Management. Renato Dias de Brito Gomes, indicado para a diretoria de organização do sistema financeiro, de 41 anos, também é formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), onde fez o mestrado. Concluiu o doutorado na Northwestern University, nos EUA.

Um trecho da ata da reunião do Copom de ontem acendeu a luz vermelha no mercado, quando afirma que “políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país”. A adoção desse “cenário alternativo” para as projeções de inflação do Banco Central (BC) gerou inquietação entre os analistas.

O BC trabalha com a hipótese de o preço do barril do petróleo chegar a US$ 100 ao final de 2022. Com base nessa avaliação, acredita que a inflação, neste ano, chegará a 6,3%. Entretanto, essa avaliação está em contradição com o boletim Focus do próprio BC, que estima a inflação em 7,1% em 2022, com uma desaceleração para 3,4% em 2022. Quando fala em “impulso de demanda agregada”, o BC está se referindo às medidas que estão sendo tomadas pelo presidente Jair Bolsonaro para estimular o consumo e reduzir o impacto da alta dos combustíveis no custo de vida.

Fonte: CorreioBraziliense