Três agentes são apontados pela PF como tendo alguma conexão com o esquema de bisbilhotice montado por Alexandre Ramagem quando esteve à frente da Abin. Espionagem ilegal seria para beneficiar Bolsonaro e os filhos
Três policiais federais acusados de envolvimento no esquema ilegal de espionagem montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão de Alexandre Ramagem prestaram depoimento aos agentes que conduzem a investigação. De acordo com informações obtidas pelo Correio, eles foram ouvidos na quinta-feira — um no Rio de Janeiro e dois em Brasília.
Ontem houve outros depoimentos na sede da PF, em Brasília, e na superintendência da corporação no Rio. Todos que foram ouvidos com envolvidos no esquema da “Abin paralela” estão afastados dos cargos que ocupam.
Uma fonte da Controladoria-Geral da União (CGU), ouvida pelo Correio, garante que existe materialidade suficientemente forte para confirmar a participação de Ramagem e outros no esquema. “A investigação apura a utilização do sistema de inteligência First Mile pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no monitoramento de dispositivos móveis, sem a necessidade de interferência e/ou ciência das operadoras de telefonia e sem a necessária autorização judicial. Segundo informado pela Polícia Federal, o referido sistema, fornecido pela empresa Cognyte Brasil S.A., é capaz de identificar a Estação Rádio Base (ERB) indicando a localização de qualquer celular monitorado”, destaca um trecho do relatório da investigação.
A Polícia Federal (PF) investiga se aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) usaram indevidamente outras ferramentas de espionagem além do software First Mile, que permite o monitoramento de geolocalização de celulares em tempo real.
Softwares
Documentos apreendidos pela PF na Operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023, indicam que outros programas podem ter sido mobilizados em nome dos interesses pessoais e políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A investigações encontraram anotações compatíveis com a ferramenta Cobalt Strike, que pode ser usada para invadir computadores. O aplicativo LTESniffer, que intercepta tráfego em redes 4G, é outro que, segundo os agentes federais, pode ter sido usado pela “Abin paralela”.
Até o momento, a PF assegura que o software First Mile foi usado mais de 60 mil vezes pela Abin entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. O programa não permite o grampo de mensagens e ligações, mas dá acesso à geolocalização em tempo real e a dados pessoais registrados junto a operadoras de telefonia. A capacidade de monitoramentos simultâneos do programa ainda é investigada.
A PF afirma que o aparato da Abin foi usado para monitorar políticos de oposição ao governo e para auxiliar a defesa de filhos do ex-presidente em investigações criminais. A agência também teria sido usada para atacar as urnas eletrônicas e para tentar associar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). (Com Agência Estado)