A revelação de que o tenente-coronel Mauro Cid estaria pronto para entregar Jair Bolsonaro (PL) no caso da venda de joias no exterior provocou agitação no cenário político, com muitos observadores especulando sobre a possibilidade iminente de o ex-ocupante do Palácio do Planalto ser preso. No entanto, a estratégia traçada pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) busca um caminho diferente, diz Malu Gaspar, do jornal O Globo.

Segundo os planos dos investigadores, Bolsonaro ainda enfrentará uma prolongada “sangria” política antes de ir para a cadeia.

Há duas vias potenciais para a detenção de Bolsonaro, explica a jornalista. A opção atual seria a prisão preventiva, uma vez que ele não foi formalmente indiciado, denunciado ou condenado. A decretação de prisão preventiva requer evidências de que a pessoa está interferindo ou pode interferir nas investigações em curso. Agentes federais envolvidos no caso indicam que existem algumas evidências nesse sentido, porém não são de conhecimento público e não seria o momento apropriado para divulgá-las. Ademais, essas evidências não seriam substanciais o suficiente para sustentar um pedido de prisão preventiva de Bolsonaro.

Outro desafio significativo para a Polícia Federal é a Procuradoria Geral da República (PGR), que até agora não tem respaldado as ações da Polícia Federal. A PGR se opôs, por exemplo, à prisão preventiva do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, efetuada sob a determinação do ministro Alexandre de Moraes em 9 de agosto.

Apesar de os pareceres da subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, considerada próxima à família Bolsonaro e confiável pelo PGR Augusto Aras, terem sido desconsiderados nas decisões de Moraes, na Polícia Federal avalia-se que prender um ex-presidente requer, no mínimo, um consenso entre os órgãos envolvidos na investigação, incluindo o Ministério Público. Diante deste cenário, fontes da PF ouvidas pela colunista, bem como interlocutores de Moraes, sugerem que o indiciamento e a denúncia de Bolsonaro ao Supremo não ocorrerão antes do fim do mandato de Aras, previsto para o final de setembro.

Enquanto aguardam a nomeação de um novo procurador-geral, a estratégia é continuar a pressão sobre Bolsonaro, tanto no inquérito relacionado às joias sauditas quanto nos eventos de 8 de janeiro, e agora no inquérito que investiga a suposta participação do hacker Walter Delgatti Neto em um esforço para minar a confiabilidade do sistema eleitoral. Os investigadores esperam fortalecer a coleta de evidências e atrair potenciais delatores que possam enriquecer os detalhes sobre as atividades ocorridas no Palácio do Planalto e ao redor de Bolsonaro nos meses que antecederam as eleições e o 8 de janeiro.

Tanto os agentes da Polícia Federal quanto Moraes reconhecem que prender um ex-diretor da PRF ou até mesmo um ex-ministro é uma questão distinta de prender um ex-presidente. Dentro do Supremo, é reconhecido que, para atingir esse nível de ação, é necessário primeiro “construir um clima” favorável na opinião pública e no Congresso, a fim de minimizar possíveis tumultos e controvérsias entre os principais líderes institucionais de Brasília quando a prisão for efetuada.

Para estrategistas envolvidos na abordagem a Bolsonaro, não é politicamente viável apressar sua prisão antes que um contexto político favorável seja estabelecido. Há quem defenda até que Bolsonaro “sangre” em liberdade até que seu julgamento no Supremo ocorra. Com o trabalho célere da Polícia Federal e de Moraes, não se espera que essa situação se prolongue. A expectativa é de que o processo esteja concluído nos primeiros meses de 2024.

Fonte: Brasil247