Invariavelmente, quem tenta colher sem antes plantar está sujeito a riscos iminentes e até contratempos indesejáveis. Em primeira mão, em se tratando de ações no campo do reino vegetal, é o desafio de ser interpelado ou mesmo interceptado pelos responsáveis ou donos do pomar, ou ainda que seja lavouras ou roçados, num linguajar mais nordestino, em vexames afrontosos e até apropriação indébita tal qual o corrupião quando se apossa dos ninhos bem encubados dos pássaros na Amazônia, bem conhecidos como curiantã.
Numa segunda escalada quem não planta nem rega suas propriedades, poderá passar pelo ridículo de comer cru, os frutos que possam lhes ser desejáveis. Sim, isto mesmo, digeri-los antes do tempo de amadurecimento. Por fim, a aptidão de colher frutos apetitosos originários de seu mais puro suor e capacidade criativa e imaginária, reside na alegria do dever cumprido de quem se determina a qualquer realização produtora.
De veras, não há nada neste mundão de meu Deus mais caro, apaixonante e gratificante do que acompanhar de perto o crescimento e desabrochar de suas próprias construções em qualquer plano de vida, afinal, somos reféns de nossas realizações na plenitude de seus tempos de vivência terrena. Deslumbrante, encantador, pujante e tantos outros adjetivos otimistas que se possa titularizar a metamorfose da prosperidade, desde seu originário cultivo e perseverança, passando pelo demorado crescimento, até finalmente o rebento dos óvulos, ou seja, a colheita salutar de qualquer empreendimento.
Em bom momento nos vem na memória a preciosa canção de Fábio Júnior “a gente colhe o que planta”, que bem ilustra esta nossa dissertativa. Então a tônica da vida humana se resume em se plantar sempre, diuturnamente. A essência de sua família é também fruto de um plantio bem regado, que haverá de lhe propiciar uma colheita bem sucedida e abundante.
Para finalizar, em meio a tantos pensamentos louváveis nesta seara, elegemos este, que sintetiza em versos o âmago da generosidade semeadora: “Se você me deseja o zero eu te desejo o cem, cada um colhe o que planta e eu quero plantar o bem”.
O autor é diretor do instituto Phoenix de pesquisa e analista político.