Com o Congresso formado, em sua maioria, por partidos de direita, presidente eleito terá de chegar a um consenso para adequar os gastos às demandas do seu futuro governo

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma árdua tarefa de negociar pautas com o Congresso Nacional predominantemente formado por aliados do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas no domingo. Para evitar percalços, a campanha petista já inicia os diálogos com o Parlamento.
Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), adotaram o gesto institucional de cumprimento e reconhecimento do candidato vencedor nas urnas. Lira foi a primeira autoridade a reconhecer a vitória do petista. A campanha de Lula, por sinal, agendou uma reunião com o político alagoano para depois do feriado de finados.

O movimento de Lira foi uma mensagem. É o que interpreta o deputado federal Luis Miranda (Republicanos-DF). “O posicionamento mostra que nós vamos ter, obviamente, uma composição muito rápida do Centrão, que forma a maioria, sem sombra de dúvidas”, afirmou. “A base bolsonarista tradicional nunca passou de 100 deputados, aqueles que matam e morrem pelo presidente. É uma minoria, um quinto da Câmara. Mas isso não significa que aquele que defendeu (o atual presidente) é bolsonarista e será contra o Lula eleito com a caneta na mão para aprovar projetos que são de extrema importância.”

Um dos principais e mais urgentes tópicos a serem debatidos pelo Congresso, em conjunto com o novo governo, é a fundamentação orçamentária para manter os R$ 600 do Auxílio Brasil — a ser rebatizado de Bolsa Família. Não há espaço no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), enviado ao Parlamento para 2023, para dar continuidade ao pagamento nesse valor, o que faz com que essa seja uma das conversas primordiais entre o governo eleito e o Parlamento, especialmente com o relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI).

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco enfatizou a prontidão para apoiar o governo de transição e os projetos prioritários, mas salientou que caberá à equipe do novo governo definir as fontes destinadas ao cumprimento de promessas de campanha, como o Auxílio Brasil turbinado.

O líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ) destacou que é papel do presidente eleito conversar com a maior bancada do Congresso. “O grande mérito do presidente Bolsonaro foi construir uma bancada grande, com novas lideranças, o que é muito importante para o país, e a gente estará unido, estaremos fazendo uma oposição responsável e, por isso, obriga, sim, que o presidente Lula converse, porque ele não tem um cenário similar a outros anos que ele governou”, frisou. “A oposição feita pelo Fernando Henrique (Cardoso) não era uma oposição consolidada. O presidente Bolsonaro alcançou uma oposição bem consolidada, bem alinhada com ele, com parlamentares novos, jovens.”

A senadora eleita e atual deputada estadual Teresa Leitão (PT-PE) disse confiar no poder de conciliação da chamada “frente ampla”, conquistada por Lula durante a campanha. “Inclusive, com a afirmação de que não existem dois Brasis, é um Brasil só, é um indicador a um diálogo. Com os bolsonaristas raiz, o Lula não vai contar, mas há um meio de campo que vai se aproximar de um lado e de outro, a depender da conjuntura, dos processos, a depender das pautas”, analisou. “Não devemos esticar a corda da radicalização, devemos priorizar o diálogo para conquistar o espaço do centro de maneira republicana”, acrescentou.

Ela salientou que o primeiro impacto desse diálogo será vivenciado logo em 2 de fevereiro. “É um termômetro, e vai ser logo no segundo dia”, disse.

Fonte: CorreioBraziliense