Conforme informações da universidade, O Bonner Program foi projetado para transformar não apenas os alunos que são diretamente apoiados pelo programa, mas também o campus e a comunidade em que eles servem e aprendem. Todos os alunos do Bonner se comprometem com oito ou mais horas de serviço comunitário por semana por meio de um estágio com um parceiro comunitário local sem fins lucrativos e com duas horas de treinamento pessoal, profissional e/ou de liderança por semana com outros alunos do programa. A Stetson University, fundada em 1883, possui um número superior a 4.000 alunos em mais de 55 cursos de graduação e especialização que levam aos Bacharelados em Artes, em Ciências, em Música, em Educação Musical e em Administração de Empresas.
A finalização do Curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio no Campus Colorado do Oeste ocorreu em 2020 e a cerimônia de certificação no ano de 2021. Segundo Eduarda, a seleção é um resultado de atividades que ela desenvolveu enquanto aluna do IFRO. “Esse sonho começa a partir do momento que entro no IFRO e tenho contato com projetos de ensino”, como o Speaking café, em que pôde aprimorar sua fluência na língua inglesa. Do qual nasceu o projeto de extensão desenvolvido ainda quando estudante no campus, o English for kids, que criou em 2019 para ofertar aulas de inglês para crianças de 6 a 9 anos de idade, em sua cidade, Cabixi (RO). A experiência contribuiu para sua seleção no programa da Embaixada dos Estados Unidos, e no início de 2020 participou do Jovens Embaixadores, período em que conheceu muitas pessoas e fez muitos contatos. Um desses indicou o EducationUSA, do Departamento de Estado Americano, que apoia alunos do mundo inteiro.
A seleção envolve escrita de redações, cartas de recomendações e envio de documentos. “Eles precisam entender o perfil da escola, porque no Brasil são muito diferentes das escolas dos Estados Unidos. Eu tive muito apoio dos professores que escreveram carta de recomendação, e da Professora Gisele que me forneceu as informações necessárias, conseguiu toda a documentação e por conta disso consegui essa parte de forma mais fácil”, conta.
“Sempre me interessei muito pelos projetos do IFRO, uma grande parte do meu tempo foi dedicada a isso, sempre vi como uma oportunidade. Estava envolvida em diversas áreas, e o inglês foi o que mais me interessei e que prossegui para criação de curso. Mas com certeza, esse incentivo de participar de atividades extracurriculares, que é inclusive um requisito das faculdades nos Estados Unidos para conseguir passar. E isso o IFRO sempre ofereceu, para todas as áreas e todos os alunos, dependendo do que gostam, conseguem achar algo para fazerem durante o ensino médio. Isso com certeza foi um divisor de águas”, afirma Eduarda.
Entre os demais programas que teve oportunidade de participar estão English Immesion Program em Brasília, Olimpíada de Língua Portuguesa em São Paulo, Olímpiada de História, Crie o Impossível em Porto Alegre, Global Citizen Year Academy, Latin American Leadership Academy e no Programa Oportunidades Acadêmicas do EducationUSA. É fundadora também do ICEANE, projeto social que ajudou alunos com deficiência durante o período de aulas on-line, projeto esse que foi reconhecido pelos Embaixadores da Educação, e internacionalmente pelo Watson Institute. Ela ainda foi Parlamento Jovem Brasileiro, e em 2021, o projeto de lei Educação Antirracista de sua autoria foi promulgado lei estadual.
O ensino voltado à interdisciplinaridade, a experiência de expandir seu conhecimento de mundo, e oportunidades de pesquisa são os principais motivadores de Eduarda, que planeja aprofundar seus estudos na área da Educação para que possa retornar ao Brasil após a conclusão de seu curso, e dedicar sua carreira profissional e contribuir com políticas educacionais que promovam mais equidade em seu estado e país. Sua escolha no curso superior nos Estados Unidos está ligada à Educação, porém, explica: “eu posso mudar isso até o meu segundo ano de faculdade, então, dependendo da minha experiência lá, eu posso mudar. E como podemos montar nosso próprio currículo, não precisamos ter um curso fixo, eu penso muito em estudar mais sobre políticas públicas, devido à experiência com o projeto de educação antirracista, que gostei muito dessa área voltada para a educação. Tenho a experiência de ambos os lados e sinto que a faculdade, por ter essa dinâmica de poder escolher o que quero estudar, eu consigo focar nestas duas áreas: educação e desenvolvimento de políticas públicas, e um pouco de direito também”.
Como reconhecimento na contribuição em uma lei estadual, recebeu em 2022 da Assembleia Legislativa (ALE-RO) a Medalha do Mérito Cultural pelas contribuições ao estado. Atualmente está trabalhando em uma empresa dos EUA, com o desenvolvimento de políticas públicas para jovens pretos, latinos e asiáticos dos Estados Unidos. E tem planos de desenvolver o currículo da educação antirracista, com revistas que podem ser distribuídos às escolas do Brasil. “Já está dando frutos e temos planos para o futuro para a educação antirracista se tornar uma realidade no nosso estado e no país”, ressalta. O estágio internacional foi conquistado por causa do projeto desenvolvido, o que ela diz estar tudo relacionado, no intercâmbio de ideias e de diferentes realidades.
Estudar no Instituto Federal de Rondônia, ela explica: “mudou completamente minha percepção do que era possível. Antes de entrar para o IFRO não tinha ideia de que pudesse conseguir alguma dessas oportunidades. E estando aqui, com apoio dos professores e da comunidade, participando de projetos. Na própria sala de aula, o desenvolvimento do pensamento crítico e da nossa confiança, e tudo isso durante esses três anos foi muito trabalhado em mim, nos meus colegas, é uma formação para a vida. E o IFRO continua comigo até hoje, continuo contando com apoio dos professores, do Diretor Marcos Anequine. Realmente mudou a minha vida, o meu futuro”.
O recado que deixa: “para os alunos que estão no ensino médio, principalmente, que aproveitem as oportunidades, é um privilégio estar numa instituição como o IFRO. E esse tempo que temos, três anos, passa muito rápido, mas dá tempo de fazer muita coisa. Então, foque na área que gosta e que gostaria de fazer, trabalhar e investir seu tempo, conte com apoio dos professores, e invista seu tempo nisso, porque os resultados podem ser extraordinários, muito maior do que sonhava, como aconteceu comigo”.
LEI ESTADUAL
Enquanto aluna do Campus Colorado do Oeste, desenvolveu projeto que em 20/06/2022 foi homenageado pela ALE-RO com a Medalha do Mérito Cultural Professor Amizael Gomes da Silva. O projeto da aluna que serviu como base para a Lei Estadual foi sua proposta enquanto representante de Rondônia no Parlamento Jovem Brasileiro em 2020. Com apoio dos Professores Moises, Magda e Melissa, a aluna iniciou sua ideia de trabalhar uma educação que fosse antirracista, para compor uma disciplina, ou projeto de extensão, ou de pesquisa, dentro da educação formal.
A Professora de Sociologia do Campus Colorado do Oeste, Magda de Oliveira Pinto, lecionava desde 2017 para o Curso Técnico em Agropecuária e para cursos superiores. Em 2018, primeiro ano de Eduarda no curso técnico, a professora relembra que trabalhou os três anos com a turma dela. Suas aulas sempre abordavam questões das instituições, das desigualdades racial e social, o papel do negro na sociedade e o quanto há um racismo estrutural, subliminar e muitas vezes negado, mas arraigado na sociedade, e reproduzido para manter uma superioridade racial e reproduzido socialmente, entre outros temas.
“Não conseguimos pensar uma sociedade brasileira, miscigenada como é a nossa sociedade, sem apresentar os gráficos e percentuais de injustiça social que existem até hoje, e que ainda são uma herança escravista. A Eduarda é muito atenta a essas questões, muito crítica, refletindo o papel dela enquanto vivenciando uma menina negra vindo de uma família minimamente estruturada, os pais são professores, então passaram valores educacionais muito importantes para ela, que veio complementar essa educação de família dentro do IFRO, ampliando suas percepções de injustiça racial e social também enquanto instituição educacional”, relembra a docente.
Como a disciplina de Sociologia tem o papel de levantar temas de debate, Eduarda sempre foi muito participativa nas discussões, atenta, atuante e crítica a refletir sobre a sociedade em quem estava inserida. Com relação às cotas sociais nas instituições de ensino, a professora recorda que em 2019 foi procurada pela aluna para aprofundar o conteúdo por meio da disciplina de Sociologia e que houvesse debate sobre esse que é um tema complexo, para terem maior aprofundamento teórico e abordagem pedagógica sobre as políticas afirmativas em relação às questões raciais.
“Entendo que ela se sentiu instigada por aquela discussão, somada à própria experiência dentro de uma instituição pública, federal, digamos, algo que não é o comum ou que acontece no geral, com ambições de ingressar na universidade, no ensino superior”. Ao ampliar o conhecimento sobre o preconceito racial e estrutural que compõe as sociedades, também ampliou seus próprios horizontes e buscou um projeto que pudesse implementar não só no combate ao racismo, mas que também promovesse uma educação antirracista. Foi daí que foi construindo o projeto que pudesse ser submetido ao Parlamente Jovem Brasileiro, que é de seleção anual dos mais bem qualificados, que respondesse aos anseios da sociedade e fosse atual. A docente conclui afirmando que Eduarda é muito proativa. “Ideia maravilhosa, instigante desde o seu nascedouro, pois era uma iniciativa de muita relevância. Não adiantava somente ter consciência, é preciso ter atitudes contra o racismo, e o melhor, por meio de uma educação formal, para combater as injustiças sociais no país”.