BIE - 28/06/2016 - Aparelho de celular exibe na tela aplicativo Uber, transporte individual privado. Projeto de lei do Senado muda as regras para a distribuição do Imposto sobre Serviços (ISS) cobrado no transporte por meio de aplicativos — como Uber, Cabify e 99. De acordo com o PLS 390/2017, o ISS deve ser arrecadado pelo município onde o passageiro iniciou a viagem. Atualmente, o ISS é repassado para a cidade onde o motorista está registrado. O PLS 390/2017 foi proposto pelo senador Pedro Chaves (PRB-MS). Ele argumenta que o motorista de um serviço de aplicativo pode pegar um passageiro em uma cidade e transportá-lo a outra. Como não tem obrigação de retornar “vazio” ao município de origem, ele pode assumir novas corridas em cidades diferentes daquela onde efetivamente está registrado. Foto: Ederson Nunes/CMPA

Há locais que não entram; corridas são rejeitadas até mesmo de dia; grupos monitoram profissionais em Porto Velho

DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos seis em cada dez motoristas de aplicativos que trabalham em Porto Velho dizem ter sido vítimas da onda de violência que cresce na capital. Os relatos vão desde pequenos roubos – de valores menores e celulares – até sequestro. Nesses casos, o motorista geralmente é feito refém e valores são retirados de sua conta através de chave PIX. Apesar de vários casos ocorridos na capital, os números podem ser ainda maiores considerando que muitos não são reportados à polícia.

Os relatos foram feitos por motoristas durante “corridas” para nossa reportagem. As “entrevistas” foram informais. A maioria pediu para não ter o nome citado, temendo represálias, inclusive das plataformas. Sem citar nomes dos bairros, afirmam que há lugares onde nem durante o dia a maioria não entra, temendo a ação de bandidos.

Para driblar a onda de violência, motoristas criaram grupos de monitoramento por aplicativos de mensagens, rádio e rastreamento. Eles usam palavras-chaves que indicam o perfil do passageiro, local para onde segue a corrida, situação suspeita e o “botão de pânico”, traduzido letras que são ditas no grupo. Quando acionado o “botão de pânico”, os carros passam a seguir o GPS e a polícia é acionada, afirma. WWF, que está na área há mais de cinco anos. “Mesmo com as medidas adotadas, cada dia é uma roleta-russa”, relata N.A.P, de 40 anos, que há três atua no ramo.

Tudo é feito de forma coloquial numa dinâmica que parece uma conversa informal. A tática é fazer com que o passageiro não desconfie do que está sendo tratado na comunicação. Esta, segundo eles, é a maior “arma”  que possuem. “Não podemos vacilar”, afirma.

O jargão usado nas conversas é o mesmo do rádio comunicador, o chamado código Q. M.N, que tem mais de 30 anos de praça e que migrou para as plataformas, diz que o código Q  é a linguagem mais popular e de fácil domínio, mas apenas quem está no grupo entende o que está sendo conversado. De acordo com ele, o método foi desenvolvido quando o rádio ainda utilizava o Código Morse para transmitir mensagens, ele é internacional e usado para tornar ágil a comunicação entre eles. Foram feitas adaptações para ajustar à linguagem regional.

NO RÁDIO

“O Código Q, ou código Quebec como alguns o denominam, nada mais é do que a formação de três siglas, sendo que tudo começa com a letra Q. Tendo isso em mente, é necessário entender como a junção dessas letras forma uma frase. Alguns são: Q.A.P = Na escuta ?; Q.A.R = Desligar; Q.R.N = Interferência; Q.R.A = Nome do operador; entre outros códigos.

Outra ferramenta é o rastreador. Ele permite saber, em tempo real, onde estão, se estão em uma corrida e se chegou no destino, parou, desviou a rota, e tudo isso sempre em comunicação com as equipes que prestam esse apoio.

LADO SOCIAL

Os grupos fazem campanhas sociais, como arrecadação de mantimentos ou dinheiro. Ajudam entidades filantrópicas, desenvolvem atividades em datas comemorativas como Dia da Mulher, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal, entre outras.

O grupo oferece ao motorista apoio: social e psicológico. Eles se ajudam ainda financeiramente, nos casos em que alguém tenha que pagar uma parcela atrasada do carro, comprar remédios, numa espécie de corrente do bem. Em caso de acidentes, fazem vaquinha para ajudar a fazer os reparos que o carro precisar.