Há locais que não entram; corridas são rejeitadas até mesmo de dia; grupos monitoram profissionais em Porto Velho
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos seis em cada dez motoristas de aplicativos que trabalham em Porto Velho dizem ter sido vítimas da onda de violência que cresce na capital. Os relatos vão desde pequenos roubos – de valores menores e celulares – até sequestro. Nesses casos, o motorista geralmente é feito refém e valores são retirados de sua conta através de chave PIX. Apesar de vários casos ocorridos na capital, os números podem ser ainda maiores considerando que muitos não são reportados à polícia.
Os relatos foram feitos por motoristas durante “corridas” para nossa reportagem. As “entrevistas” foram informais. A maioria pediu para não ter o nome citado, temendo represálias, inclusive das plataformas. Sem citar nomes dos bairros, afirmam que há lugares onde nem durante o dia a maioria não entra, temendo a ação de bandidos.
Para driblar a onda de violência, motoristas criaram grupos de monitoramento por aplicativos de mensagens, rádio e rastreamento. Eles usam palavras-chaves que indicam o perfil do passageiro, local para onde segue a corrida, situação suspeita e o “botão de pânico”, traduzido letras que são ditas no grupo. Quando acionado o “botão de pânico”, os carros passam a seguir o GPS e a polícia é acionada, afirma. WWF, que está na área há mais de cinco anos. “Mesmo com as medidas adotadas, cada dia é uma roleta-russa”, relata N.A.P, de 40 anos, que há três atua no ramo.
Tudo é feito de forma coloquial numa dinâmica que parece uma conversa informal. A tática é fazer com que o passageiro não desconfie do que está sendo tratado na comunicação. Esta, segundo eles, é a maior “arma” que possuem. “Não podemos vacilar”, afirma.
O jargão usado nas conversas é o mesmo do rádio comunicador, o chamado código Q. M.N, que tem mais de 30 anos de praça e que migrou para as plataformas, diz que o código Q é a linguagem mais popular e de fácil domínio, mas apenas quem está no grupo entende o que está sendo conversado. De acordo com ele, o método foi desenvolvido quando o rádio ainda utilizava o Código Morse para transmitir mensagens, ele é internacional e usado para tornar ágil a comunicação entre eles. Foram feitas adaptações para ajustar à linguagem regional.
NO RÁDIO
“O Código Q, ou código Quebec como alguns o denominam, nada mais é do que a formação de três siglas, sendo que tudo começa com a letra Q. Tendo isso em mente, é necessário entender como a junção dessas letras forma uma frase. Alguns são: Q.A.P = Na escuta ?; Q.A.R = Desligar; Q.R.N = Interferência; Q.R.A = Nome do operador; entre outros códigos.
Outra ferramenta é o rastreador. Ele permite saber, em tempo real, onde estão, se estão em uma corrida e se chegou no destino, parou, desviou a rota, e tudo isso sempre em comunicação com as equipes que prestam esse apoio.
LADO SOCIAL
Os grupos fazem campanhas sociais, como arrecadação de mantimentos ou dinheiro. Ajudam entidades filantrópicas, desenvolvem atividades em datas comemorativas como Dia da Mulher, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal, entre outras.
O grupo oferece ao motorista apoio: social e psicológico. Eles se ajudam ainda financeiramente, nos casos em que alguém tenha que pagar uma parcela atrasada do carro, comprar remédios, numa espécie de corrente do bem. Em caso de acidentes, fazem vaquinha para ajudar a fazer os reparos que o carro precisar.