Foram mais de 10 anos para o tão esperando sim. Raimundo Adélio Gomes de Souza, de 47 anos, e Maria Clarice da Silva Souza, 37, que moram no distrito de São Carlos, em Porto Velho oficializaram a união após 13 anos por meio da ação Justiça Rápida, do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO).

Raimundo teve que percorrer mais de 50 km de estrada de chão e travessia de barco pelo Rio Madeira para que pudesse, enfim, ouvir o sim de Maria. Com ela, os dois constituíram a família com três filhos e agora, oficializaram a união.

“Eu sempre quis casar, é o certo, mas ela sempre teve medo de assumir esse compromisso. Agora, ela aceitou, aproveitei a vinda do pessoal, arrumamos os documentos e agora, a gente casou. Estou muito feliz”, conta.

A ação da Justiça Rápida ficou suspensa por dois anos, por conta da pandemia, mas em abril, voltou a realizar os trabalhos nas comunidades do Baixo Madeira. Com esse retorno, a população dessas comunidade podem ter acessos a serviços como: pedido de pensão para os filhos menores, divórcio amigável, união estável, cobranças, entre outros processos que são de menor complexidade jurídica, mas que precisam da ação efetiva do Poder Judiciário.

Raimunda Nonata, mãe da Raymara, de um ano e nove meses, aproveitou a ação da justiça para poder ter o registro de nascimento da bebê.

“Ela nasceu bem no início da pandemia. A gente ficou isolado aqui na comunidade e não conseguimos ter acesso a esses serviços. Só agora que minha filha pode ser registrada”, explicou.

Justiça Rápida, Distrito de São Carlos, Porto Velho — Foto: Jheniffer Núbia/ g1

Justiça Rápida, Distrito de São Carlos, Porto Velho — Foto: Jheniffer Núbia/ g1

A escolha pelo distrito de São Carlos, segundo o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc), da comarca de Porto Velho, foi o escolhido neste ação, por ser o que é mais populoso entre as comunidades do Baixo Madeira.

Durante a ação, pessoas de comunidades vizinhas se deslocaram até São Carlos para receber o atendimento da Justiça Rápida. Essa foi a situação de Arilson de Oliveira, que mora no distrito de Conceição Da Galera.

“Eu vim de rabeta (barco de pequeno porte) lá da comunidade. Saí de lá umas 7h e cheguei aqui às 10h20 para resolver minha situação. Chegando aqui, o atendimento é rápido e é melhor do que ir para Porto Velho. O deslocamento é menor”, disse.

Equipe da Justiça Rápida

 

Computares, impressora, roteador de internet, entre outros equipamentos, foram transportado de sede na zona central de Porto Velho à comunidade, isso para atender com agilidade a população da localidade. Conselheiros, apoiadores e um juiz estiveram presentes durante a ação.

Para que o trabalho da Justiça Rápida seja eficaz, todo o serviço é divido em etapas, explica o juiz Audarzean Santana.

“Antes de chegarmos aqui, outras etapas foram realizadas. Isso para que o trabalho nesta etapa seja mais rápida. A anterior, foi feita a triagem com a coleta de dados e a explicação de qual seria o trabalho solicitado, nessa situação é marcada já a audiência, que acontece neste etapa” .

Há mais de 20 anos trabalhando em ações da Justiça Rápida, Érico da Costa, que é supervisor da Cejusc , conta que a comunicação verbal e não-verbal é primordial para atender as comunidades ribeirinha.

“Trabalhar com público não é fácil. A gente fala com aqueles bem humildes, mas também com os arrogantes, mas a gente tem que ter esse jogo de cintura. É nosso trabalho. Mas a gente precisar desenvolver habilidades em que nos aproxime mais deles para ter um resultado mais efetivo”, conta.

Emanuel Oliveira também atua há mais de 22 anos nas ações da Justiça Rápida. Ele diz testemunhar a vida acontecendo nessas comunidades.

“Presenciei desde o registro de nascimento ao casamento das pessoas dessas comunidades. Mais que trabalho, criamos laços. O mais importante é ver a importância da justiça desde o nascer de uma pessoa”, pontua.