Duas pessoas que estão nessa estatística são os irmãos Gabriel e Igor. Eles são filhos de Regiane Fernandes, mulher que foi morta a tiros em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em janeiro de 2020. Suetônio o é acusado pelo crime.
Ele e Regiane foram namorados por mais de um ano antes do crime, mas ela terminou o relacionamento, segundo pessoas próximas, por causa de ciúmes excessivos do namorado. Ele não aceitou o término.
Igor conta que soube da morte da mãe pela namorada, com quem dividiu o momento de luto. No entanto, o relacionamento amoroso acabou também em função disso:
Ela teve um papel essencial nesse momento. Minha mãe, inclusive, era apaixonada por ela. Tinha ela como filha. Mas depois disso, não consegui mais me relacionar. Não consegui mais me abrir por completo.
Gabriel, por sua vez, resume o sentimento pela perda da mãe:
Você nunca vai ser a mesma pessoa depois do acontecido, você nunca… Às vezes você próprio não se reconhece com você mesmo.
As políticas de combate à violência de gênero têm avançado no Brasil nos últimos anos, mas a assistência aos órfãos destes crimes ainda é limitada.
A advogada Sueli Amoedo, do Projeto Justiceiras, diz que são poucos os recursos para o acompanhamento das crianças e jovens: “Nós não temos núcleos para atendimento desses jovens, dessas crianças que são órfãos do feminicídio. Quem acaba fazendo esse atendimento são centros de referência da mulher em situação de violência, mas o ideal é que essas crianças tenham um espaço para falar da dor,” conta.
No âmbito federal, 11 projetos de lei com propostas para oferecer assistência focada em órfãos de feminicídio tramitam na câmara dos deputados. Um dos objetivos, segundo o texto, é “garantir direitos e assistência integral (…) aos órfãos de feminicídio.”
O Fantástico consultou o Planalto e o Ministério da Cidadania sobre as ações práticas tomadas desde a publicação de um decreto do presidente Jair Bolsonaro, de dezembro de 2021, que instituiu o plano nacional de enfrentamento ao feminicídio, mas o governo não respondeu.